A disciplina “Mudanças Climáticas e a Amazônia” recebeu o professor Dr. Danilo Fernandes, do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas, e Arthur Cruz, doutorando do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, para debater sobre o seguinte tema: “Bioeconomia: o que, para quem e para que?”.
Utilizando como literatura de apoio os textos “A dominância do paradigma tecnológico mecânico-químico-genético nas políticas para o desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia” e “Por uma bioeconomia da socio-biodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro”, os convidados debateram, dentre outras coisas, sobre o avanço do campo econômico na agricultura através da imposição de um modelo homogeneizador produzido nos moldes daquilo que foi concebido para a indústria.
No entanto, a aplicação dessa sistemática esbarra na complexidade e diversidade existente nos biomas e ecossistemas terrestres que apresentam formas de resistência a proposta homogênea industrial, provocando dificuldades para o domínio sobre a natureza. Contudo, o paradigma tecnológico mecânico-químico-genético, orientado pelo capital, se propõe a eliminar esses limites, o que possibilitaria o desenvolvimento de meios de produção agrícola em escala industrial, aprimorando o controle natural pelo sistema econômico.
Enfocando a Amazônia, as formas de ocupação do território desde o período colonial apontariam no sentido de um esquema social baseado no extrativismo. Contudo, a organização dos arranjos econômicos contemporâneos se articulariam (há muito tempo) para uma modernização da natureza em substituição ao modelo extrativista, a partir de iniciativas como o projeto Fordlândia, os grandes projetos incentivados pela ditadura militar, além do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas que “aceleram” as cadeias produtivas.
Com base nessas reflexões, é necessário problematizarmos como a subserviência científica aos padrões capitalistas produz, simultaneamente, uma sofisticação ao controle da natureza e uma desorganização dos padrões naturais de temperatura e clima que fomentam as condições para as mudanças climáticas a nível global.
Enquanto a “onda da Bioeconomia” segue “achando soluções simples” para problemas complexos enraizados há séculos na região, os povos e comunidades tradicionais da região já se posicionaram contrário às várias proposições debatidas pelos “vendedores de sonhos” da bioeconomia. A sociobioeconomia, como definiram, precisa antes de mais nada, garantir a defesa dos territórios, valorização de seus saberes tradicionais, e a promoção de arranjos produtivos que garantam a proatividade de seus arranjos coletivos de relações com mercado, além de negação aos processos produtivos que conduzem a monocultura.
Texto: Iná Camila – Doutoranda do PPGAA