Na última sexta-feira, 05 de maio, a disciplina “Mudanças Climáticas e a Amazônia” contou com a participação do Prof. Dr. José Guilherme da UFPA de Castanhal e da doutoranda Lene Andrade do Programa de Pós Graduação em Diversidade Sociocultural (PPGDS) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O debate teve como temática “Saberes tradicionais e mudanças climáticas na Amazônia”.

 

 

O Prof. Dr. José Guilherme pontuou a importância de compreendermos a “dinâmica planetária para entender o meio o qual se vive”, e abordou temas como os rios voadores, bomba biótica e antropoceno. Finalizou sua fala analisando o processo de ocupação histórica da região do nordeste paraense, citando a estrada de ferro Belém-Bragança como exemplo de atividade antrópica que “acaba e invisibiliza com saberes locais.” Ele enfatizou que a mesma lógica aplica-se para processos de ocupação contemporâneos para toda a região Amazônica, quando observa-se que o rastro de destruição medido por focos de queimadas está exatamente nas áreas de avanços da fronteira econômica desses modelos exógenos de ocupação, pautado na destruição da floresta, e na expropriação de população local de seus territórios.

A Doutoranda Lene Andrade apresentou resultados da sua pesquisa com populações de Territórios Quilombolas em Gurupá e Ourém.  No caso de Ourém, ela traz a perspectiva da meteorologia popular e seu uso em atividades produtivas na Comunidade Quilombola Mocambo em Ourém-PA. A pesquisadora utiliza conceitos como: cosmopolítica, etnociência atmosférica e cosmometeorologia. Seu trabalho foi publicado no ano passado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi (Volume 17 (2), 2022).

Em suma, nos foi relatado a relação das comunidades tradicionais com o clima, os saberes repassados entre as gerações para “detectar” períodos chuvosos ou de seca associados ao melhor momento para dar inícios aos plantios. Além disso, como as comunidades percebem os impactos das mudanças climáticas e adaptam suas dinâmicas de reprodução social. Relatos como o enfraquecimento da relação com a Mãe Terra, mudança nos meses para plantio, mudança nos horários de trabalho na roça devido ao sol quente, implicação na alimentação devido ao descontrole do tempo e potencial perda de produção surgiram como consequência das mudanças climáticas.

Por fim, Lene Andrade afirma a importância em se desmistificar a ideia de que o sistema de implantação de roça da agricultura familiar é prejudicial, essa falácia só fortalece o incentivo ao uso de maquinário na tentativa de moldar suas práticas a interesses externos.

Ela enfatiza também que muitos dos modelos de medida das mudanças climáticas têm uma abordagem métrica e matemática. Por outro lado, a visão dos povos e comunidades tradicionais sobre essas mudanças envolvem as cosmovisões atmosféricas, e que é preciso descolonizar o debate sobre os saberes e importância das populações locais sobre mudanças climáticas.

O debate nos deixa as seguintes reflexões: As populações tradicionais são sujeitos vulneráveis ou vulnerabilizados? Como os agricultores conseguem ser resilientes face às mudanças climáticas?

Texto: Paula Tavares - Discentes do PPGAA