O Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas - PPGAA, do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares da UFPA e Embrapa Amazônia Oriental, realizará no dia 24/05/2023, às 14h, aula aberta (online) sobre o tema Ética em pesquisa: procedimentos e desafios, ministrada pela MSC Luitt Ortega, do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Os interessados em participar poderão acessar o link: https://www.youtube.com/live/x9gM8WWcNr0. Não percam!

Na tarde do dia 16 de maio/2023, em espaço organizado pela disciplina de Mudanças Climáticas Globais e a Amazônia, do Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA), vinculado ao Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), da UFPA, debateu-se a seguinte temática: mercado de carbono: oportunidade/solução para quem e para quê?

Tal discussão fora conduzida presencialmente pelo doutorando Carlos Augusto Ramos, vinculado ao próprio PPGAA/INEAF, e, de maneira virtual, por Barbara Abrahão, doutoranda da Universidade de Oxford. Ambos investigam em suas carreiras acadêmicas a problemática do mercado de carbono a partir de experiências em comunidades quilombolas e/ou em municípios amazônicos.

Previamente às falas protagonistas, o professor Valério Gomes, que coordena a disciplina, exibiu um filme-documentário chamado “Carbono e Metano”, o qual, por meio de sua proposta didático-pedagógica, teve como objetivo estabelecer na discussão aspectos físico-químicos básicos, que nos ajudam a compreender as transformações climáticas globais causadas a partir da dependência da sociedade moderna da utilização de combustíveis fósseis, a partir da Revolução Industrial. 

Carlos Ramos, em sua apresentação, abordou duas experiências presentes no cenário do arquipélago do Marajó. Em seu trabalho “Espelhinhos do neocolonialismo: os casos da comercialização de créditos de carbono em Breves e Portel, Marajó, Pará.”, duas realidades próximas são abordadas de maneira investigativa, por meio de suas experiências, enquanto natural do município de Portel e, também, na condição de engenheiro florestal, prestando consultorias ao Instituto Conexsus e à Comissão Pastoral da Terra.

Como ponto de partida, Ramos ancorou-se na definição de “capitaloceno”, baseada em Jason W. Moore, que define as ações do sistema capitalista como determinantes para o avanço da situação de degradação do planeta e mudanças climáticas. O pesquisador aproveitou para contextualizar algumas metas para a redução de emissão de gases de efeito estufa estabelecidas pelo acordo de Paris/2015. A partir deste acordo, conta Carlos, convencionaram-se duas categorias para a efetivação das metas: uma, o Mercado Institucional de Carbono, coordenado por Estados nacionais; e outra, o Mercado Voluntário de Carbono, tendo como conceito, escrito em seu trabalho: “a negociação da iniciativa privada com organizações e indivíduos que exerçam ações que possam compensar o impacto as atividades empresariais de poluição ou de degradação do meio ambiente.” Em seu trabalho, evidencia-se que há uma contradição entre os grandes impactos gerados por grandes setores capitalistas - como a indústria, a agropecuária etc - e uma conta que é repartida “igualitariamente” entre todo o conjunto da sociedade, inclusive com grupos que geram baixos impactos. Para Carlos Ramos, impactos e danos gerados pelo capitaloceno “são cumulativos, de longo prazo e de difícil mensuração”, cabendo destaque para o termo “cumulativo”, designado por outra colega do PPGAA, Iná Camila Favacho.

Em seu trabalho, Carlos apresentou-nos duas experiências investigadas em Breves e Portel pela sociedade civil organizada, Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais e agências jornalísticas como o The Intecept Brasil e Agência Pública. Nestes dois municípios localizados da mesorregião do Marajó, Pará, se instalaram projetos de REDD+ com pouca participação e conhecimento das comunidades tradicionais da região, apesar dos créditos de carbono basearem-se nas florestas destes territórios comunitários. No caso de Breves, relatou-se o caso da comercialização de créditos de carbono a partir de Cadastro Ambiental Rural (CAR) registrados e sobrepostos às Reservas Extrativistas Mapuá e Terra Grande-Pracuúba e que somam cerca de 90 mil hectares. No caso da venda de créditos de carbono em Portel, agências jornalísticas encontraram quatro grandes contratos de créditos de carbono que cobririam cerca de 714 mil hectares (28% da área do município) com valores estimados em mais de 500 milhões de reais sem passar por um amplo debate na sociedade e influenciando políticas públicas locais como a construção de escolas nas áreas rurais. Chama a atenção nos apontamentos nos estudos feitos a oferta de fogareiros e cestas básicas às famílias como benefícios ofertados pelas empresas intermediárias deste comércio de carbono como contrapartida de aceitação dos projetos. Chama a atenção também o fato do município de Breve ter elaborado e aprovado na Câmara Municipal o seu “Plano Municipal de Combate às Mudanças Climáticas” sem nenhuma discussão com a sociedade local. Ambos exemplos apontam para a forma de atuação das empresas de mercado de carbono na região, com estratégias de “benefícios” para as comunidades locais sem nenhum vínculo direito as aos benefícios monetários do mercado de carbono, e cooptação da elite política local para respaldar juridicamente seus interesses econômicos.

A apresentação de Carlos Ramos finaliza com uma breve descrição sobre a audiência pública ocorrida no dia 24 de janeiro de 2023 na sede municipal de Portel que lançou luz a tais contratos de carbono em Portel, com promoção do Ministério Público por meio da 1a Vara Agrária de Castanhal. Na oportunidade estiveram presentes representações da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade - SEMAS, Procuradoria Geral do Estado do Pará - PGE, Instituto de Desenvolvimento Florestal e de Biodiversidade do Pará - IDEFLOR, Instituto de Terras do Pará, Conselho Nacional de Populações Extrativistas - CNS e Federação de Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiares do Pará - FETAGRI que escutaram famílias onde os projetos de carbono estavam sendo executados. Tal evento foi um marco na região uma vez que permitiu que fossem retiradas dúvidas sobre o mercado de carbono e fosse dada chance das comunidades de Portel expressarem sua opinião sobre os processos em curso.

Texto: Eduardo Protázio – Mestrando do PPGAA

A disciplina “Mudanças Climáticas e a Amazônia” recebeu o professor Dr. Danilo Fernandes, do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas, e Arthur Cruz, doutorando do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, para debater sobre o seguinte tema: “Bioeconomia: o que, para quem e para que?”.

Utilizando como literatura de apoio os textos “A dominância do paradigma tecnológico mecânico-químico-genético nas políticas para o desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia” e “Por uma bioeconomia da socio-biodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro”, os convidados debateram, dentre outras coisas, sobre o avanço do campo econômico na agricultura através da imposição de um modelo homogeneizador produzido nos moldes daquilo que foi concebido para a indústria.

No entanto, a aplicação dessa sistemática esbarra na complexidade e diversidade existente nos biomas e ecossistemas terrestres que apresentam formas de resistência a proposta homogênea industrial, provocando dificuldades para o domínio sobre a natureza. Contudo, o paradigma tecnológico mecânico-químico-genético, orientado pelo capital, se propõe a eliminar esses limites, o que possibilitaria o desenvolvimento de meios de produção agrícola em escala industrial, aprimorando o controle natural pelo sistema econômico.

Enfocando a Amazônia, as formas de ocupação do território desde o período colonial apontariam no sentido de um esquema social baseado no extrativismo. Contudo, a organização dos arranjos econômicos contemporâneos se articulariam (há muito tempo) para uma modernização da natureza em substituição ao modelo extrativista, a partir de iniciativas como o projeto Fordlândia, os grandes projetos incentivados pela ditadura militar, além do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas que “aceleram” as cadeias produtivas.

Com base nessas reflexões, é necessário problematizarmos como a subserviência científica aos padrões capitalistas produz, simultaneamente, uma sofisticação ao controle da natureza e uma desorganização dos padrões naturais de temperatura e clima que fomentam as condições para as mudanças climáticas a nível global.

Enquanto a “onda da Bioeconomia” segue “achando soluções simples” para problemas complexos enraizados há séculos na região, os povos e comunidades tradicionais da região já se posicionaram contrário às várias proposições debatidas pelos “vendedores de sonhos” da bioeconomia. A sociobioeconomia, como definiram, precisa antes de mais nada, garantir a defesa dos territórios, valorização de seus saberes tradicionais,  e a promoção de arranjos produtivos que garantam a proatividade de seus arranjos coletivos de relações com mercado, além de negação aos processos produtivos que  conduzem a monocultura.

Texto: Iná Camila – Doutoranda do PPGAA

Giovanni Dazzo e Gregory Thaler têm participação especial na aula de Metodologia de Pesquisa do PPGAA

Na quarta-feira, dia 10 de maio, os Professores Giovanni Dazzo e Gregory Thaler (ambos da Universidade da Geórgia - EUA) participaram de uma aula no âmbito da disciplina de Metodologia de Pesquisa, ministrada pelos Professores Mauricio Torres e Monique Medeiros (UFPA/INEAF/PPGAA), aos estudantes do Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas. A aula, no formato híbrido, foi sobre métodos de Pesquisa-ação Participativa (PAR). Na primeira parte da aula, Dazzo compartilhou suas experiências na condução de projetos de pesquisa-ação participativa, principalmente com comunidades indígenas na Guatemala, e apresentou diferentes métodos de PAR, tais como: “ripples of change, “card sorting” e “storytelling”.

Na segunda parte da aula, Medeiros e os estudantes, que são das turmas de mestrado e de doutorado de 2023, realizaram juntos um exercício de “ripples of change”, se pautando na seguinte questão de reflexão “Quais mudanças na UFPA serão necessárias para uma participação acadêmica mais efetiva na COP30?

Tendo em vista que Belém deve sediar a Conferência do Clima da ONU, em 2025, a discussão suscitou inúmeras sugestões. Na sequência, os estudantes utilizaram a técnica do “card sorting” para priorizar e organizar suas reflexões. Após as discussões, o grupo decidiu elaborar um documento para ser apresentado à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UFPA, de modo a compartilhar as proposições desenvolvidas em sua prática metodológica.

Esta seção de aula híbrida contribuiu para a cooperação internacional contínua, entre estudantes e docentes da UFPA e da Universidade da Geórgia, que vem se materializando  no desenvolvimento de pesquisa participativa na Amazônia Brasileira.

Na última sexta-feira, 05 de maio, a disciplina “Mudanças Climáticas e a Amazônia” contou com a participação do Prof. Dr. José Guilherme da UFPA de Castanhal e da doutoranda Lene Andrade do Programa de Pós Graduação em Diversidade Sociocultural (PPGDS) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O debate teve como temática “Saberes tradicionais e mudanças climáticas na Amazônia”.

 

 

O Prof. Dr. José Guilherme pontuou a importância de compreendermos a “dinâmica planetária para entender o meio o qual se vive”, e abordou temas como os rios voadores, bomba biótica e antropoceno. Finalizou sua fala analisando o processo de ocupação histórica da região do nordeste paraense, citando a estrada de ferro Belém-Bragança como exemplo de atividade antrópica que “acaba e invisibiliza com saberes locais.” Ele enfatizou que a mesma lógica aplica-se para processos de ocupação contemporâneos para toda a região Amazônica, quando observa-se que o rastro de destruição medido por focos de queimadas está exatamente nas áreas de avanços da fronteira econômica desses modelos exógenos de ocupação, pautado na destruição da floresta, e na expropriação de população local de seus territórios.

A Doutoranda Lene Andrade apresentou resultados da sua pesquisa com populações de Territórios Quilombolas em Gurupá e Ourém.  No caso de Ourém, ela traz a perspectiva da meteorologia popular e seu uso em atividades produtivas na Comunidade Quilombola Mocambo em Ourém-PA. A pesquisadora utiliza conceitos como: cosmopolítica, etnociência atmosférica e cosmometeorologia. Seu trabalho foi publicado no ano passado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi (Volume 17 (2), 2022).

Em suma, nos foi relatado a relação das comunidades tradicionais com o clima, os saberes repassados entre as gerações para “detectar” períodos chuvosos ou de seca associados ao melhor momento para dar inícios aos plantios. Além disso, como as comunidades percebem os impactos das mudanças climáticas e adaptam suas dinâmicas de reprodução social. Relatos como o enfraquecimento da relação com a Mãe Terra, mudança nos meses para plantio, mudança nos horários de trabalho na roça devido ao sol quente, implicação na alimentação devido ao descontrole do tempo e potencial perda de produção surgiram como consequência das mudanças climáticas.

Por fim, Lene Andrade afirma a importância em se desmistificar a ideia de que o sistema de implantação de roça da agricultura familiar é prejudicial, essa falácia só fortalece o incentivo ao uso de maquinário na tentativa de moldar suas práticas a interesses externos.

Ela enfatiza também que muitos dos modelos de medida das mudanças climáticas têm uma abordagem métrica e matemática. Por outro lado, a visão dos povos e comunidades tradicionais sobre essas mudanças envolvem as cosmovisões atmosféricas, e que é preciso descolonizar o debate sobre os saberes e importância das populações locais sobre mudanças climáticas.

O debate nos deixa as seguintes reflexões: As populações tradicionais são sujeitos vulneráveis ou vulnerabilizados? Como os agricultores conseguem ser resilientes face às mudanças climáticas?

Texto: Paula Tavares - Discentes do PPGAA