O objetivo deste relato é apresentar minha experiência enquanto doutorando do INEAF na Universidade da Georgia (Athens, Sul dos Estados Unidos) no âmbito do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior da CAPES entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022.

 

Antes de apresentar a experiência em si, gostaria de enfatizar que esse programa, ao possibilitar a estudantes brasileiros a realização de parte da pesquisa de Doutorado em uma universidade fora do Brasil, é uma oportunidade incrível de aprendizado e aprimoramento das habilidades de pesquisa. Gostaria de enfatizar também quem me permitiu começar. Se não fosse o apoio e estímulo dos meus familiares e professores do INEAF, especialmente meu orientador Heribert Schmitz, que sempre matutou a importância do intercâmbio e me incentivou a realizá-lo, eu não teria começado a enfrentar o edital, a seleção e os critérios impostos pela CAPES em março e abril de 2021. Muito obrigado!

Doutorando do PPGAA na Universidade de Geórgia

 

 

O processo começou com a seleção interna no INEAF. Nessa etapa, enviei meu Plano de Trabalhado de Doutorado Sanduíche à coordenação. Depois de aprovado nesse primeiro momento, o INEAF me indicou à CAPES para que eu pudesse ser inserido no SCBA (Sistema de Controle de Bolsas e Auxílio), a partir do qual estive em contato frequente com os técnicos responsáveis pela seleção (agora da CAPES).

 

Nessa etapa, além de documentos de identificação, três documentos foram exigidos: o Plano de Trabalho, o certificado de proficiência e a carta do orientador estrangeiro. O primeiro já estava em fase de elaboração desde o início de 2021, quando decidi aplicar para o edital da CAPES. Por isso ele foi elaborado com bastante calma, apesar do tempo apertado, e não tive grandes problemas em propô-lo, considerando que foi uma extensão do Plano de Trabalho de Doutorado Sanduíche submetido anteriormente na seleção interna do INEAF. Já o segundo não foi conquistado com tanta tranquilidade, apesar de eu também ter começado a busca por ele em janeiro de 2021. A obrigatoriedade da comprovação de certificado de língua estrangeira (inglês), que exclui muitos colegas da oportunidade de intercâmbio, foi meu maior desafio. Eu mapeei todas as possibilidades de proficiência aceitas pela CAPES e decidi realizar o TOEFL ITP, cuja nota mínima exigida pela CAPES foi 543. O terceiro documento foi adquirido com relativa facilidade, pois quem eu pretendia que fosse meu orientador nos Estados Unidos, Gregory Thaler, já havia me recebido na Universidade da Georgia em 2020 na ocasião de um intercâmbio no âmbito da Iniciativa de Governança de Recursos Naturais do Brasil (BNRGI, em inglês). Ele recebeu minha proposta de estágio sanduíche com entusiasmo e não hesitou em me oferecer uma carta-convite.

 

Após análise documental e dois longos meses de processos burocráticos, fui aprovado pela CAPES. Entrei em contato com o Department of International Affairs, onde Gregory Thaler é Professor Assistente, e fui informado que eu precisava fazer uma entrevista por videoconferência para que eles pudessem avaliar minha capacidade de comunicação no inglês, pois o TOEFL ITP não tem uma sessão de speaking. Então, aqui fica uma dica: se você puder fazer o TOEFL IBT ou qualquer outro teste que tenha speaking, faça! A entrevista não iria impossibilitar minha ida à Universidade da Georgia. O intuito do departamento era apenas medir minha capacidade comunicativa no idioma nativo para sugerir ou não o acompanhamento de um tutor de inglês ao longo de minha condição de Estudante Visitante. Porém, caso o acompanhamento fosse sugerido, sem dúvidas minhas despesas financeiras seriam bem maiores do que foram.

 

Após todo o período de seleção, viajei para os Estados Unidos no fim de agosto de 2021 após receber a primeira remessa de pagamentos da CAPES (ao todo são três remessas, incluindo mensalidades, auxílio deslocamento e auxílio para seguro-saúde). E ali naquele agosto, no seu ritmo, a vida ainda me apresentou alguns desafios para encontrar moradia em um país estrangeiro, mesmo que eu tivesse toda essa parte organizada antes de viajar. De qualquer modo, após encontrar um apartamento pequeno, mas aconchegante, compartilhado com quatro colegas norte-americanos – um verdadeiro laboratório de experiências -, comecei a organização para as atividades do estágio, iniciado em setembro de 2021.

 

Foto no campus, Universidade da Geórgia.

 

 

Apesar do contexto imposto pela pandemia, o relativo controle da crise sanitária permitiu que as universidades no estado da Georgia reabrissem no outono de 2021. Portanto, não tive problemas para realizar o estágio conforme as atividades pretendidas no Plano de Trabalho, diferente de outros colegas da própria UFPA que foram para países como Alemanha, Espanha e França onde houve o fechamento de vários serviços após setembro de 2021.  

 

Meu Plano de Trabalho foi elaborado para analisar a participação do sindicalismo rural a propósito da integração produtiva de agricultores familiares na produção da palma de óleo no Nordeste do Pará. A universidade da Georgia ofereceu uma estrutura com bibliotecas e profissionais que foram bastante úteis nesse sentido, especialmente na abordagem da governança ambiental, conceito-chave do meu plano. Ao longo do meu estágio, cursei a disciplina Environmental Politics ministrada por Gregory Thaler na School of Public and International Affairs entre agosto e dezembro de 2021.

 

Nessa ocasião, a partir de um referencial teórico de Política e Ecologia, fui treinado para visualizar como a relação entre as dinâmicas políticas e sociais de poder e os sistemas ecológicos se desenvolve e gera conflitos, com foco para o tema da governança. Além da disciplina, meus estudos foram complementados com leituras de capítulos de livros existentes nas bibliotecas da universidade e artigos publicados nas principais revistas científicas internacionais, que puderam ser baixados graças ao código (ID) que a universidade me ofereceu enquanto Estudante Visitante e nem sempre são disponibilizados gratuitamente pelo Periódico Capes.

 

Após o fim da disciplina e do semestre, passei a frequentar os Lab Meetings no laboratório de Antropologia, coordenado por Don Nelson, professor Associado do Departamento de Antropologia da Universidade da Georgia e parceiro da BNRGI. O espaço de conversa é destinado para que os estudantes possam aprimorar suas técnicas de pesquisa a partir de discussões teóricas de uma bibliografia pré-selecionada e compartilhar suas experiências de pesquisa, como frustrações, desafios, conquistas e expectativas para o mercado de trabalho. E ali percebi como a socialização entre discentes e docentes a propósito dos desafios e das dificuldades no ambiente acadêmico realmente pode ser útil à criação um espaço de trabalho saudável.

 

Já no início do semestre subsequente (Spring of 2022), apresentei resultados preliminares de meu estágio sanduíche na Integrative Conservation Conference 2022, realizada entre 3 e 5 de fevereiro e organizada pelo Center for Integrative Conservation Research da Universidade da Georgia. A partir de um olhar teórico da Ecologia Política e da Governança Ambiental treinado com Gregory Thaler ao longo da disciplina cursada no estágio, demonstrei que a participação de sindicatos na elaboração dos contratos entre empresas e agricultores familiares não tem acontecido conforme o preconizado pelas políticas públicas que orientam a produção de palma de óleo no Pará. Além disso, enfatizei que, mesmo com o viés ambiental e participativo, a produção dessa oleaginosa é permeada de polêmicas e provoca efeitos negativos às comunidades locais. Para contrastar essa realidade, expus como agricultores familiares têm agido no sentido de aliviar tais efeitos negativos e buscar autonomia perante as empresas produtoras e processadoras de palma de óleo com algumas fotos e alguns relatos de uma pesquisa de campo realizada em julho de 2019.

 

Momento de diálogo com colegas e pesquisadores, Universidade da Geórgia.

 

 

A experiência de participar de um evento internacional me colocou em diálogo com vários acadêmicos de outros países cujos temas eram próximos ao meu. Pudemos apontar fragilidades nos trabalhados uns dos outros, sempre com bastante respeito e o intuito de contribuir para o desenvolvimento da pesquisa científica, destacar elementos em comum de nossos estudos, aprender com metodologias de pesquisa e referenciais teóricos diferentes e provocadores e visualizar como nossas pesquisas estão interligadas, apesar da distância física que os continentes nos impõem. Particularmente, foi fascinante assistir a apresentações sobre a produção de palma de óleo no Sudeste Asiático e perceber como os cientistas sociais engajados nesse tema no Brasil podem aprender a partir desse diálogo transnacional.

 

As conversas e os feedbacks me levaram à elaboração de um manuscrito apresentado em um seminário interno do BNRGI em 18 de fevereiro.

 

Neste dia, demonstrei aos parceiros de pesquisa como os diversos tipos de agricultores em Tomé-Açu, Nordeste do Pará, colaboram entre si e com atores externos para melhorar sua participação na cadeia de valor da palma de óleo. Especialmente, enfatizei como os sistemas agroflorestais estão proporcionando vantagens econômicas e acesso aos mercados aos agricultores familiares que produzem palma de óleo e sendo mais eficaz que a política regional voltada à produção da palma de óleo. Após a apresentação, houve um momento de feedback em que meus colegas contribuíram oferecendo insights que estão me ajudando a transformar o manuscrito em um artigo que, sob a orientação dos meus orientados (Gregory Thaler e Heribert Schmitz), será finalizado e submetido a uma revista científica em breve.

 

O estágio sanduíche terminou no último dia de fevereiro de 2022 e durou seis meses. Ao longo desse tempo, além de todas as trocas acadêmicas, tive muito aprendizado cultural, desde assistir a um jogo de futebol americano do time local no estádio lotado até ver e sentir a neve – uma experiência marcante para qualquer paraense.

 

Momento de troca cultural e de vivência local, Estádio de esportes.

 

 

Experiência nova, vivenciando um clima frio.

 

 

 

 Dentre todos os aprendizados que tive com os norte-americanos, um dos mais marcantes foi aprender a exercitar a objetividade. Hoje não hesito em dizer que aprendi com eles a “ir direto ao ponto”, ação muitas vezes necessárias em nossos ambientes de trabalho. Porém, no geral, o esforço de síntese devo ao meu orientador Gregory Thaler, cuja parceria tem me oportunizado uma aproximação atenciosa e responsável ao modus operandi da pesquisa nos Estados Unidos, bem como a atenção e o foco necessários à análise de macroestruturas (regional-global) na pesquisa científica.

 

Finalmente, gostaria de lembrar sobretudo aos discentes do INEAF que as portas do BNRGI estão abertas. Trata-se de uma iniciativa que oferece uma plataforma de aprendizado e rede profissional para estudantes e professores brasileiros e norte-americanos desenvolverem e implementarem soluções para problemas ambientais complexos que exigem uma abordagem colaborativa e interdisciplinar. A rede está em ascensão e é uma ótima oportunidade para os estudantes do INEAF.

 

Por Evandro Neves

 

 

Nos dias 21 e 22 de abril, as docentes Monique Medeiros (Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares Universidade Federal do Pará/UFPA) e Ivanira Dias (Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar/UFPA), as mestrandas Binto Mané, Odenira Dias e Luciane Lopes, e o doutorando Nelson Ramos Bastos, do Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas, acompanhadas do mestrando José Luis Souza, do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia, estiveram reunidos com distintos atores sociais de Salvaterra, no Pará, para dialogar sobre o início do projeto "Inovações sócio materiais na Ilha do Marajó: da produção de alimentos de qualidade à construção social de mercados por famílias rurais quilombolas".

No dia 21, pela manhã, na sede da Secretaria da Educação do município, participaram dessa primeira discussão representantes desta secretaria, secretaria municipal de agricultura, EMATER-PA, escritório local de Salvaterra, Senar/Salvaterra, Conselho de Alimentação Escolar, nutricionistas, Malungo e representantes das comunidades de Pau Furado, Deus Ajude e Vila União. Nessa oportunidade, Luciane e José Luis, que além de pesquisadores são também filhos de comunidades quilombolas de Salvaterra, junto aos seus colegas, apresentaram suas temáticas de pesquisa relacionadas ao projeto em questão. Na sequência dessa reunião, entre a tarde do dia 21 e o dia 22, outras reuniões foram feitas nas comunidades de Vila União/Campina, Pau Furado e Deus Ajude, com o mesmo propósito. Na ocasião, os/as presentes puderam fazer colocações a respeito de sua realidade no território quilombola e partilhar suas expectativas acerca do desenvolvimento do projeto.

Reunião em Salvaterra/PA para início do projeto

Foto: Membros do projeto, 2022.

 

O referido projeto, coordenado pela docente Monique Medeiros, tem como objetivo cerne analisar a potencialidade da operacionalização do Programa Nacional de Alimentação Escolar, bem como estimular sua consolidação, em comunidades quilombolas de Salvaterra, como instrumento de catalização de inovações sócio-materiais. É financiado pela Fapespa e tem duração prevista de 24 meses. Além de outros docentes pesquisadores da UFPA, distintas parcerias compõem essa proposta de trabalho, dentre essas destaca-se o CECANE/UFPA, a FAO/ONU, a FADECAM, a SEMED/Salvaterra, o Núcleo de ação e resistência quilombola Campinas Vila União e o grupo Abayomi.

 

Detalhe de arte visual desenvolvida pela comunidade

Foto: Membros do projeto, 2022.



A agenda de ações no âmbito do projeto está em construção coletiva e as primeiras atividades, a serem realizadas ainda no primeiro semestre deste ano, envolverão diagnósticos acerca das especificidades socioprodutivas das comunidades quilombolas de Salvaterra.

 

Equipe do projeto no Terminal Hidroviário de Belém/PA

Foto: Membros do projeto, 2022.

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL
INSTITUTO AMAZÔNICO DE AGRICULTURAS FAMILIARES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURAS AMAZÔNICAS


Edital 1/2022


PROGRAMA DE DOUTORADO SANDUÍCHE NO EXTERIOR - 2022



A Coordenação do Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA) anuncia por meio deste edital a inscrição para a concorrência de bolsas de doutorado sanduíche no exterior, conforme EDITAL CAPES PDSE Nº 10/2022.


Por meio do Edital CAPES PDSE Nº 10/2022, a Capes tornou pública a seleção de discentes de doutorado para o Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE). Recomendamos a todas e todos os interessados que leiam a integralidade desse edital e atentem para as diretrizes nele expressas, bem como ao cronograma relacionado ao processo seletivo.

ACESSO O ARQUIVO AQUI